Maria Carolinna Grillo
Agradeço a NAPEX por me acolher e me mostrar que não estou sozinha, nunca estive e você que está lendo também não está!
Nunca falaram que ia ser fácil e realmente não foi. É complexo uma mãe receber a notícia que seu filho tem uma malformação, muitas coisas passam na cabeça. Minha mãe recebeu essa notícia com 19 anos em uma época em que não existiam redes sociais e Google para se informar melhor. Nasci no interior do Rio de Janeiro em um hospital sem infraestrutura e sem médicos especializados para ao menos entender o que eu tinha para explicar pra ela. A busca começou ali: “O que é isso?” “Tem cura?” “Ela vai sobreviver?”.
Infelizmente, meus pais tiveram que ouvir de alguns médicos despreparados que eu não ia muito longe ou que para conseguir as cirurgias teriam que ter muito dinheiro – e isso não fazia parte da nossa realidade financeira. Após um tempo de procura, eu estava com 20 dias e achamos um médico especializado que pudesse ao menos fazer a primeira cirurgia de muitas: Colocar a bexiga para dentro e fechar a parede abdominal. Infelizmente, perdi a continuidade do tratamento e só fui realizar as outras etapas das cirurgias com 5 anos. Esse foi o momento que comecei a minha história no Hospital das Clínicas de São Paulo com o Dr. Amilcar Giron – quem eu tenho uma admiração sem fim.
E deu tudo certo na parte física: realizei as cirurgias necessárias, reconstruções e acompanhamentos anuais. Porém, a maior de todas as minhas evoluções não foi na parte física ou da doença, foi dentro de mim: meu coração, espírito e mente. Através da minha trajetória com extrofia vesical (EV) eu aprendi muitas coisas e continuo aprendendo todos os dias. Ela trouxe para mim uma forma de evoluir continuamente. Eu sempre digo que sem a EV, eu não seria a mesma pessoa, não teria o mesmo caráter e nem a mesma espiritualidade que tenho hoje. Ela trouxe pra mim o desejo de ajudar outras vidas, a determinação de nunca parar e a força de sempre se erguer. Ela foi um presente pra minha alma e acredito que para as pessoas a minha volta também. Tudo depende de como você vê o mundo em que está inserido e eu escolhi a ver dessa forma: Uma dádiva.
Meu nome é Maria Carollina Grillo, através dessa experiência fui levada para uma maior ainda: SER MÉDICA. Estou no último ano da faculdade e ansiosa para continuar meu caminho e me tornar Urologista – mais especificamente Uropediatra. Tenho 26 anos, passei por 4 procedimentos cirúrgicos e venci todos eles. Hoje o que me restou dessa estrada foram muitas lembranças, uma sede de viver enorme, gratidão por tudo o que vivi e aprendi e uma bela cicatriz.
Agradeço a NAPEX por me acolher e me mostrar que não estou sozinha, nunca estive e você que está lendo também não está!!!!!
“AS CICATRIZES PERTENCEM AOS GUERREIROS”